terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

quanto tempo disso resta?

eu cresci com uma espécie de ausência paterna: durante muito tempo meu pai não falou com a família da minha mãe. Aniversários, 1ª eucaristia, festas de final de ano e eventos do tipo ele nunca estava presente. Demorei um pouco, mas até acho que assimilei isso numa boa. Depois, já na minha adolescência, e na maturidade dele, o próprio começou a enxergar que aquilo era algo que não fazia mais sentido algum, e ele foi se permitindo aos poucos e se reaproximando da família da minha mãe. E um belo dia, o que era muito, mas muito improvável, aconteceu: meu pai participou do natal da minha família. Fiquei feliz pra caralho! Eu tinha em mente então que poderia cometer uma série de erros na minha vida (e consegui), mas que não cometeria os mesmos do meu pai, os que senti na pele. Sabia dos motivos dele, nunca questionei, apenas digeri aquilo, até porque, colocando na balança, o saldo dele era muito positivo: nunca deixou faltar educação, caráter ou comida na mesa. Aí sabe o que acontece? Aquilo que acontece, invariavelmente, com todo mundo. O tempo passou. E olha só, virei pai. Virei pai de uma menina linda, a Maria Manuela, e sabe o que eu fiz/faço? Tenho um relacionamento péssimo com a mãe dela, por consequência, com minha filha. Não satisfeito, recentemente me afastei da minha família, alguns até pensam que por raiva, mas não foi. Foi por vergonha mesmo, já que a única pessoa de que sinto raiva sou eu mesmo, por ter permitido que cada página dessas fosse escrita com a minha letra. A Manuela, que logicamente não tem culpa de nada, foi uma irresponsabilidade minha, mesmo quando alguns me alertaram pra me afastar da mãe dela. Ter esse pânico de zona leste que tenho hoje, assim como acordar no meio da madrugada e não dormir mais e, de quebra, ter perdido o mais sincero amor foi irresponsabilidade minha também. E não, não é o jogo do 'sou vitiminha da história, vejam minhas lamentações'. Tanto não o é que, sabe aquele clichê do 'tem tanta gente numa situação pior que a sua'? Pois é, eu sei e concordo plenamente. Mas esse lance de se perdoar é bem mais complicado do que imaginava. Ainda bem que eu nunca precisei perdoar meu pai por nada, já que hoje eu olho pra trás e vejo que ele foi muito mais homem que eu, muito menos falho do que eu, e eu não teria moral nenhuma pra julgar as atitudes e decisões que ele tomou ao longo da vida. Amo meu pai, tenho um orgulho enorme dele e queria que minha filha sentisse isso um dia por mim também. Dá tempo? Dá. Mas me sinto totalmente despreparado e incapaz pra esse papel hoje. E afirmo isso porque, nesse caso, o papel em questão exige o meu próprio perdão e o meu amor próprio, coisas que se perderam em alguma curva fora do eixo lá atrás. Pai, me ensina?

| ao som de 'inverso ano luz' - André Prando, faixa 01 do álbum 'Estranho Sutil' |  

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