segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

essa Barra que é gostar de você...

não sei bem ao certo, mas o ano era 2003 ou 2004. Estava cursando História na Uespi, e pagando a disciplina de arqueologia a turma resolveu fazer então uma viajem pra Serra da Capivara, pra encerrar o módulo. Conheci a famosa pedra furada, visitamos o museu, vi as inscrições e tudo mais. Naquela época o máximo que um celular permitia era o jogo da 'snake' e trocar SMS estava no auge. Não levei câmera, diferente da grande maioria que registrava tudo e, no fim das contas, deixei tudo salvo na minha memória mesmo, achei que me bastaria. Agora o ano é 2017, e viajei pela primeira vez sozinho. Fui e voltei sem um único registro digital, mas dessa vez foi opcional. Ou quase. Em dois dias rodando por Barra Grande eu conversei mais com 'estranhos' do que todo um mês no meu ambiente de trabalho. Garçons, o cara da banda, recepcionistas, dono de pousada... eu fiquei à vontade pra rodar pela cidade e falar com as pessoas sem o medo que criei daqui, onde eu fico e me sinto enclausurado. É curioso porque, de certa forma, isso apenas reforçou minha ideia de ir embora, de sair de Teresina, mas eu também volto com um punhado de dúvidas que não havia considerado ainda. Uma delas, talvez a principal, é o fato de que eu posso ir pra casa do caralho, lá onde o vento faz a curva, mas eu teria que ir 'limpo' me perdoando pelo que fiz e pela vida que joguei na lata do lixo. E, passados mais de 7 meses, eu ainda não aprendi a lidar com isso. Infelizmente. Outra grande dúvida já é pelo lado profissional da coisa. Volto considerando que trabalhar e viver especificamente na minha própria área de atuação é bem pouco provável por lá. Pode até funcionar como freelas, algo esporádico aqui e ali, mas não daria pra viver disso, não seria minha renda fixa. Então a pergunta que valeria 1 milhão de dólares é: o que eu poderia ofertar, a nível de serviços, pra uma cidade que é carente de quase tudo? Se pelo menos eu soubesse fazer coxinhas... (ouvi essa dica de dois garçons por lá). Mas bem, voltando pra parte da viajem que eu tirei pra tentar desopilar, tem umas coisas curiosas pra registrar. Tipo o fato de ter tocado 'dom quixote' em 3 dos 3 bares que eu passei no domingo; 'muito prazer, meu nome é otário' pareceu uma mensagem subliminar pra mim. Ou então o espanto por pagar R$ 26,00 em duas Heinekens. Teve também o cachorro que praticamente sentou ao meu lado e me fez companhia sábado a noite. Enfim. Agora eu escrevo tudo isso de dentro de uma sala de concreto, ar condicionado ligado e totalmente desconfortável comigo mesmo, com a cabeça pensando naquele mundão que ficou lá atrás, onde eu estava ontem nessa mesma hora. É, eu queria escrever textos menores, mas não deu dessa vez. Que o Airlon do futuro possa ler tudo isso e dizer: 'olha só, mesmo com todas as dúvidas dele, deu certo!'.

| ao som de 'fotografia 3 X 4' - Belchior, faixa 09 do álbum 'Alucinação' |

Nenhum comentário:

Postar um comentário