terça-feira, 2 de maio de 2017

não vou viver satisfeito essa comédia humana...

era sábado por volta de 13hs, tinha acabado de sair da entrevista de emprego mais distante que eu já havia feito. E saí de lá um pouco aborrecido sim, frustrado por perceber que não ia ser em Jeri que eu me esconderia do mundo e dos meus problemas. Fui beber. Já era final de tarde quando o cara que estava fazendo o voz e violão no bar resolveu tocar 'contra o tempo', do Vander Lee. Mesmo com o clima bem fechado e ainda chuvoso eu permanecia de óculos escuros. E isso me ajudou a disfarçar o quanto eu solucei quando ouvi aquilo. E chorei tanto pela música em si, quanto pela saudade gritando dela, como por todo o contexto de estar ali, sozinho, bebendo em frente ao mar naquela cidade que a gente tanto cogitou conhecer juntos. Passadas mais umas duas músicas o cara foi e resolveu tocar 'apenas um rapaz latino americano'. Logicamente a essas alturas o cantor/tocador já tinha subido muito no meu conceito pelo repertório em si, que entre outras incluía Alceu, Zé Ramalho, Caetano Veloso e etc. Virada a noite, no domingo pela manhã me encontrava no mesmo bar, quase que sentado no mesmo local. Eu conversava com a Luana pelo whats sobre aluguel de casa em Barra Grande, local comum onde pensamos - cada um com seus motivos e problemas - em se esconder. Do nada ela me diz o que aconteceu. De cara, pensei que fosse uma informação errada, algum desses boatos de internet. A Luana me dizia de um lado que tava se acabando de chorar, e eu do outro, pesquisando e querendo não encontrar confirmação daquilo. Mas bem, era fato. Pouco mais de uma hora depois, ainda digerindo aquilo, comentei com a Luana: teve duas mortes de não familiares que mexeram muito comigo. Uma, foi o Senna, em 94, quando eu tinha apenas 10 anos. A outra foi o Bussunda, durante a copa de 98. Quando o Renato Russo morreu eu ainda não tinha a ideia do tamanho da importância que ele viria a ter pra mim. O mesmo digo de Chico Science. Sei que quando tava ali, conversando sobre valores, localização da casa e outros detalhes e a Luana foi e me atravessou com aquilo, eu revivi a mesma sensação do Senna e do Bussunda. E foi horrível. Na noite anterior eu já pensava algo do tipo 'nunca mais eu piso em Jeri', e eu tinha acabado de ganhar mais um grande motivo pra isso, já que associar aquele local com a morte do poeta seria inevitável. Pra completar, tinha um pessoal sentado em frente a minha mesa, e um deles comentou sobre o ocorrido. Um cara que devia ter mais ou menos a minha idade riu e disse mal saber quem era. Me deu vontade de esmurrar ele, de jogar ele no mar e pedir que não voltasse. Mas nem Iemanjá mereceria oferenda de tamanho mal gosto. Permaneci ali. Sozinho. Bebendo. Querendo entender a tal artéria aorta, o por que dela se romper assim, sem motivo aparente. Esse negócio de viver realmente é um mistério. Já na segunda, dia de voltar, uma das coisas que mais ficava repetindo na minha cabeça era 'fui com ele vivo e volto com ele morto'. Eu que tinha criado uma página no face havia pouco mais de uma semana, e a foto do perfil era dele. Enfim, Ainda tá tudo meio nublado, o próprio texto talvez esteja meio confuso, mesmo eu tendo me segurado pra não escrever logo no domingo, ter deixado a poeira baixar um pouco. Voltei pra Teresina. Pro lugar que moro, onde habitam comigo, além da Amy, todos os medos e frustrações. Minha mãe havia deixado janta pra mim na geladeira, tinha pedido pra ela passar lá esses dias pra colocar ração pra minha companheira. 'tris-teresina', alguém já escreveu isso. Bem, pelo menos vão parar de lhe encher querendo saber por onde andas, não é? Descanse, poeta.

| ao som de 'alucinação', 'mote e glosa', 'coração selvagem', 'vício elegante', 'objeto direto' e algo mais... |      

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