era sábado por volta de 13hs, tinha acabado de sair da entrevista de emprego mais distante que eu já havia feito. E saí de lá um pouco aborrecido sim, frustrado por perceber que não ia ser em Jeri que eu me esconderia do mundo e dos meus problemas. Fui beber. Já era final de tarde quando o cara que estava fazendo o voz e violão no bar resolveu tocar 'contra o tempo', do Vander Lee. Mesmo com o clima bem fechado e ainda chuvoso eu permanecia de óculos escuros. E isso me ajudou a disfarçar o quanto eu solucei quando ouvi aquilo. E chorei tanto pela música em si, quanto pela saudade gritando dela, como por todo o contexto de estar ali, sozinho, bebendo em frente ao mar naquela cidade que a gente tanto cogitou conhecer juntos. Passadas mais umas duas músicas o cara foi e resolveu tocar 'apenas um rapaz latino americano'. Logicamente a essas alturas o cantor/tocador já tinha subido muito no meu conceito pelo repertório em si, que entre outras incluía Alceu, Zé Ramalho, Caetano Veloso e etc. Virada a noite, no domingo pela manhã me encontrava no mesmo bar, quase que sentado no mesmo local. Eu conversava com a Luana pelo whats sobre aluguel de casa em Barra Grande, local comum onde pensamos - cada um com seus motivos e problemas - em se esconder. Do nada ela me diz o que aconteceu. De cara, pensei que fosse uma informação errada, algum desses boatos de internet. A Luana me dizia de um lado que tava se acabando de chorar, e eu do outro, pesquisando e querendo não encontrar confirmação daquilo. Mas bem, era fato. Pouco mais de uma hora depois, ainda digerindo aquilo, comentei com a Luana: teve duas mortes de não familiares que mexeram muito comigo. Uma, foi o Senna, em 94, quando eu tinha apenas 10 anos. A outra foi o Bussunda, durante a copa de 98. Quando o Renato Russo morreu eu ainda não tinha a ideia do tamanho da importância que ele viria a ter pra mim. O mesmo digo de Chico Science. Sei que quando tava ali, conversando sobre valores, localização da casa e outros detalhes e a Luana foi e me atravessou com aquilo, eu revivi a mesma sensação do Senna e do Bussunda. E foi horrível. Na noite anterior eu já pensava algo do tipo 'nunca mais eu piso em Jeri', e eu tinha acabado de ganhar mais um grande motivo pra isso, já que associar aquele local com a morte do poeta seria inevitável. Pra completar, tinha um pessoal sentado em frente a minha mesa, e um deles comentou sobre o ocorrido. Um cara que devia ter mais ou menos a minha idade riu e disse mal saber quem era. Me deu vontade de esmurrar ele, de jogar ele no mar e pedir que não voltasse. Mas nem Iemanjá mereceria oferenda de tamanho mal gosto. Permaneci ali. Sozinho. Bebendo. Querendo entender a tal artéria aorta, o por que dela se romper assim, sem motivo aparente. Esse negócio de viver realmente é um mistério. Já na segunda, dia de voltar, uma das coisas que mais ficava repetindo na minha cabeça era 'fui com ele vivo e volto com ele morto'. Eu que tinha criado uma página no face havia pouco mais de uma semana, e a foto do perfil era dele. Enfim, Ainda tá tudo meio nublado, o próprio texto talvez esteja meio confuso, mesmo eu tendo me segurado pra não escrever logo no domingo, ter deixado a poeira baixar um pouco. Voltei pra Teresina. Pro lugar que moro, onde habitam comigo, além da Amy, todos os medos e frustrações. Minha mãe havia deixado janta pra mim na geladeira, tinha pedido pra ela passar lá esses dias pra colocar ração pra minha companheira. 'tris-teresina', alguém já escreveu isso. Bem, pelo menos vão parar de lhe encher querendo saber por onde andas, não é? Descanse, poeta.
| ao som de 'alucinação', 'mote e glosa', 'coração selvagem', 'vício elegante', 'objeto direto' e algo mais... |
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